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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

ARTIGOS DE DOM ORLANDO BRANDES ENVIADOS PELA IRMÃ ZULEIDES



Epidemia e farra da corrupção

A onipresença da corrupção, até agora muito velada, começa a ser aos poucos desvelada. Conhecemos só a ponta do iceberg. Quando as investigações chegarem nos bancos, nos portos e aeroportos, nas religiões e no narcotráfico, na polícia e nos governos, no esporte e no comércio, no agronegócio e nas indústrias, nas diversas organizações econômicas, sociais e políticas, haveremos de nos convencer  da atualidade do sétimo mandamento: Não roubar.
Cada um de nós sabe por experiência como somos desonestos, mentirosos, interesseiros em relação ao dinheiro. A natureza humana nasce corrompida. Sem a educação moral, sem a fé, sem a graça de Deus a tendência à corrupção não é curada. Pior ainda, ela é amparada por outra perversidade que é a mentira. Entre nós brasileiros a corrupção tornou-se “cultura do jeitinho”, do levar vantagem em tudo. Mentir e roubar é como um casamento indissolúvel.
Sabemos que a corrupção é uma das “piores deformações” do ser humano e da sociedade. A Reforma Política proposta pela “Coalizão de Entidades" entre elas a CNBB, quer coibir o financiamento das empresas a candidatos às eleições. É um basta à corrupção na política. Do contrário, continuaremos com a política do jeito, do favor, da ocultação, da politicagem. O povo, saturado, enojado e indignado com tanta corrupção foi para as ruas dizer um basta. Será que foi ouvido?
As consequências da corrupção são inúmeras causando prejuízos e morte. As áreas mais afetadas são: o saneamento básico, o emprego, a educação, a saúde, as desigualdades sociais, as políticas publicas, o tráfico de pessoas, a ilegalidade, a impunidade, o crime organizado. Tem razão o Papa Francisco ao dizer a corrupção é uma porcaria, uma sujeira, lama pura, vergonha e escândalo.
Carecemos de desenvolvimento ético, espiritual, humanitário. Em pleno século 21 ainda somos analfabetos e incivilizados no que diz respeito à transparência, à verdade, aos valores humanos e morais. Rejeitando a oferta e a sabedoria do reino de Deus, preferimos construir um mundo sem Deus. O que aconteceu foi a criação de um mundo contra o homem , a vida, o cosmos. No lugar da conversão, preferimos a aversão, a diversão, a subversão, a corrupção.
Somos interpelados a reverter o que está invertido. As potencialidades do bem, a força do amor, a iluminação da fé, a honestidade intelectual, são mais fortes que o império do mal. Façamos como o garimpeiro que no meio da lama encontra ouro e pérolas. Não podemos deixar de ser devotos da vida e da dignidade humana. Um mundo novo é possível e o desejo de ser bom e melhor, mora no fundo de cada coração. Há lá no fundo uma luz.
Os cristãos acreditam na recuperação das pessoas, no poder da ternura, da misericórdia. Sobretudo acreditam na justiça, no amor, na liberdade e na verdade como pilares da sociedade. Cremos na invencibilidade do bem e no poder do bom senso, da retidão, da compaixão como meios de mudança social. O cristão é portador do reino de Deus, da Doutrina Social da Igreja sob a luz do Evangelho. Os valores da Teologia, da Libertação, da opção pelos pobres, da profecia não desapareceram mas precisam ser reabilitados. A volta do conservadorismo é assustadora. O pontificado de Papa Francisco tornou-se um sinal dos tempos para a contribuição de um mundo melhor e a superação de toda espécie da corrupção.
O sociólogo Sergio Cotta, escreve que todas as revoluções da humanidade estão em busca da inocência perdida no jardim do Paraíso. Há um desejo de transparência, coerência, purificação do coração na humanidade. Lembremo-nos de Jesus Cristo, dos nossos santos e santas, de Gandhi, de Martin Luther King, de Teresa de Calcutá, de Mandela, de Dom Helder, Dom Luciano e grandes pontífices: São João XXIII, São João Paulo II, Beato Paulo VI. Todos eles foram profetas que denunciaram a corrupção.  Jesus expulsou os vendilhões do templo com ira profética, assim devem fazer seus discípulos.
A fome de dinheiro é o supremo afrodisíaco, afirma um grande estadista. O povo costuma dizer: “o dinheiro compra tudo”. Como seria bom lembrar que quando formos sepultados “o caixão não tem gaveta”. Sim, a divinização do dinheiro que é a atualização da idolatria do “bezerro de ouro”, clama pela indignação ética e pela observância dos Dez Mandamentos. A exemplo do profeta Moisés é preciso destruir o ídolo perverso, que é a corrupção. Falta-nos a educação para a justiça e a espiritualidade da pobreza evangélica, da partilha e da sobriedade. Corrupção nunca mais. Ah, se procurássemos a Deus como procuramos o dinheiro a sociedade seria bem melhor. Vida sim, corrupção não.

Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina




QUATRO CRISTIANISMOS INSUFICIENTES

1.     Cristo sem carne. A encarnação, a humanidade de Jesus, a inculturação do Filho de Deus em nossa história é a maior elevação da pessoa humana. O Cristo sem carne é aquele cristianismo longe do outro, sem o irmão, sem amor pelos pobres, pessoas doentes, é um misticismo intimista, rubricista, sem compromisso com o mundo, com a realidade, portanto, cristianismo desencarnado, alienado, desinteressado pelo irmão. Cada irmão é continuidade da encarnação de Jesus. O humanismo de Jesus de Nazaré, seu jeito de ser, seu corpo, alma e vontade humana, nos impelem ao compromisso com a vida, a sociedade, a história, a política. O Cristo sem carne retrata um cristianismo espiritualista, acomodado, invertido. O Evangelho convida-nos a ir ao encontro do outro, ver o rosto do irmão, valorizar sua presença física. O Papa Francisco fala da “reconciliação com a carne do outro” (EV. 88). Tocar na carne do pobre, do doente, do sofredor é tocar na carne sofredora de Jesus, lembra o Papa.
2.     Cristo sem Igreja. Encontramos pessoas que aceitam Cristo, mas, rejeitam a Igreja. Admiram Cristo, mas, não aderem à Igreja, aos sacramentos e à vida pastoral da comunidade. Sabemos, porém, que a Igreja é o corpo de Cristo. Um Cristo sem Igreja é cabeça sem corpo. Um Cristo sem Igreja é uma anomalia, pois, quem quis a Igreja foi Jesus. Ela é o instrumento da salvação que continua a ação de Jesus Cristo na história até o fim dos tempos. Jesus quis a Igreja. Cristo sem Igreja é uma forma de cristianismo insuficiente. Quem ama Cristo, ama também a Igreja pela qual ele deu sua vida.
3.     Cristo sem o reino. Eis mais uma caricatura de Jesus Cristo. Toda a Palavra e pregação de Jesus é o reino de Deus que se manifesta nas curas, milagres, opções, atitudes e gestos de Jesus. Os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os pobres são libertados, os pecadores são perdoados. Tudo isso é o Reino de Deus. Separar Jesus e o reino é uma aberração, uma manipulação do Evangelho, uma opção ideológica. Entendamos a relação entre fé e política à luz do Reino de Deus.
4.     Cristo sem cruz. Esta é a religião da facilidade, da prosperidade, da fé sem ética. Hoje há uma rejeição cultural da renuncia, do sacrifício, da abnegação de si, do sofrimento. Em outras palavras, somos batizados, mas, não evangelizados: “cristãos com vida de pagão”. Uma espécie de “mundanidade espiritual” como diz o Papa Francisco. Criamos um Jesus à nossa imagem e semelhança porque escolhemos apenas uma parte do Evangelho. Paulo Apostolo fala dos inimigos da cruz de Cristo, cujo Deus é o ventre. Eis mais uma forma de cristianismo insuficiente. Jesus Crucificado e Ressuscitado é o coração do cristianismo.
Quem quer Cristo, mas não quer a cruz, opta por um estilo de vida com verniz cristão, por uma religiosidade sem compromisso com os irmãos, com a comunidade e com a sociedade. Sem a cruz nem sequer somos salvos. Com a luz que vem da cruz nos tornamos generosos, disponíveis, sacrificados. A cruz é a força da missão, alívio na dor, estímulo para uma vida doada, oblativa, dadivosa.

Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina


As cinco vias da Palavra
Setembro é o mês da Bíblia. Sofremos um analfabetismo bíblico e precisamos criar o “século da Bíblia” e tê-la todos os dias em nossas mãos. Eis as cinco vias da Palavra.

1 - O ouvido -  Como poderemos crer sem ouvir a pregação da fé? “Ouve oh Israel”. Este é o mandamento divino. Dá-nos Senhor, ouvido de discípulo, pede o profeta Isaías. A fé entra pelo ouvido. Não podemos ser surdos ao Deus que se revela a nós como a amigos. Quem ouve minha Palavra e a põe em prática, este é o maior no reino dos céus, ensinou Jesus. Hoje se ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis o vosso coração, diz o livro de Samuel. A Palavra supõe a audição, o ouvido, do contrário, ela cai no chão.

2 - A cabeça - A Palavra exige o estudo, a teologia, o magistério e o catecismo. A fé não pode contrariar a reta razão, mas, ela vai além da razão. É preciso dar a razão de nossa fé porque a verdade e a fé são duas asas que movem o ser humano até Deus. Fé e razão se completam. O ato de fé é um ato de decisão, de opção, de adesão a Deus, a Jesus Cristo e à revelação divina. A cabeça é uma via da fé para evitar todo infantilismo, magia, engano, exploração, fanatismo e heresia no âmbito da religião. A Palavra guia nossos pensamentos e oferece critérios, valores e luzes para a razão.

3 - O coração - A Palavra ouvida desce ao coração, ou seja, é interiorizada, assimilada, vivida, experimentada. É no intimo do coração que a Palavra se faz carne em nós. Ela se torna alimento. “Toma o livro e come-o” diz a Escritura.  Há uma grande fome e sede da Palavra porque ela alimenta a fé no coração dos cristãos. A fé é resposta à Palavra e compromisso assumido no centro, no interior dos corações.

4 - As mãos - A fé sem obras é morta. A Palavra alimenta a fé. É no testemunho, na ação, mas principalmente nos gestos de amor a Deus e ao próximo, que se manifesta nossa fé. Nossas mãos se abrem à generosidade, à solidariedade, à prática do amor pessoal e social, graças à fé. Uma fé autêntica é compromisso com a vida, a transformação, a promoção humana. Daí se entende os famosos binômios: fé e vida, oração e ação, mística e política, contemplação e transformação. A Palavra abre nossas mãos para a construção do reino, para as boas obras e o amor transformador.

5 - Os pés - A Palavra é o combustível, o motor, a energia da missão. Quem tem fé não é acomodado, mas, missionário, caminhante, evangelizador. Fé com  pé na estrada, pé a caminho, pé nas ruas, nas portas das casas, nas periferias e nas mansões. A fé leva ao lava-pés e a andar a pé para facilitar o encontro. De pessoa a pessoa, de casa em casa, de grupo em grupo, de nação a nação, a fé nos coloca em movimento, em ousadia missionária. Os caminhos da fé levam ao encontro com o diferente, o afastado, até o além fronteiras. A fé nos dá pés velozes que correm até os confins da terra, que nos levam ao povo. Com os pés iluminados pela Palavra caminhamos pressurosos para a casa do Pai. Pés evangelizadores que mesmo feridos e machucados nos deixam sempre de pé especialmente ao pé da cruz.  

Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina
Publicado na Folha de Londrina, 11 de setembro de 2010

Ir. Zuleides M. de Andrade, ASCJ
Comunicação para a Pastoral
www.apostolas-pr.org.br



A Palavra de Deus, oito passos

O mês de setembro é dedicado à Palavra de Deus. Já fizemos grandes progressos em relação à Palavra, mas, o analfabetismo bíblico ainda é grande entre nós. Tudo foi escrito para que tenhamos esperança e consolação. É preciso, pois, pegar o livro, comê-lo, ruminá-lo. Lembremos o que dizia Paulo Apóstolo: eu sofro e faço tudo pelo Evangelho, por isso estou na cadeia como um malfeitor. Lembrava, porém, que a Palavra de Deus não se deixa acorrentar.
Nossa experiência com a Palavra tem oito passos. Antes de sermos anunciadores precisamos ouvir, compreender, internalizar e praticar a Palavra. Para que se respeite esta “lógica da experiência” com as Sagradas Escrituras vejamos os oito passos a serem percorridos e vividos.
Primeiro passo: “ouvintes da Palavra”. Ouvir com o coração. Para ouvir é preciso silenciar, dar tempo, acolher a Deus que fala e se comunica na Palavra. Ouvir não é apenas dar ouvidos, mas, deixar a Palavra ressoar, ecoar, transpassar o coração.
Segundo passo: “amigos da Palavra”. Deus fala conosco como os amigos. A Bíblia é uma carta de amor, de amizade, de aliança. Para os amigos nós dedicamos tempo e fazemos de tudo para manter amizade. Quem é amigo da Palavra irá frequentá-la sempre e vibrar de alegria, por este encontro de amizade.
Terceiro passo: “familiares da Palavra”. Ter familiaridade com as Escrituras consiste em tê-las nas mãos, no coração e na missão. A Palavra nos regenera, recria e refaz. Quanto mais lemos, meditamos, estudamos tanto mais nos familiarizamos com a Bíblia. Somos consortes da Palavra.
Quarto passo: “praticantes da Palavra”. Nossos gestos e ações falam mais que nossas pregações. Jesus chama de feliz quem ouve a Palavra e a pratica. Ainda mais, por em prática o que ouvimos e pregamos equivale a construir nossa casa sobre a rocha. Não podemos ter um discurso espiritual e uma vida carnal.
Quinto passo: “discípulos da Palavra”. Neste estágio a Palavra se faz carne em nós. Ele está sempre no princípio de tudo. No princípio do dia, no principio das reuniões, da catequese, da celebração dos sacramentos. Assim, acontece a animação bíblica de toda a vida e pastoral da Igreja.
Sexto passo: “servidores da Palavra”. Não devemos ser donos, patrões, senhores, dominadores da Palavra. Muito menos falsificadores, demagogos, tagarelas. É um verdadeiro “mundanismo espiritual” servir-se da Palavra para nossos interesses próprios. Nada devemos tirar ou acrescentar às Sagradas Escrituras. Não se pode manipular o povo com a Bíblia.
Sétimo passo: “mártires da Palavra”. Sofrer e morrer pela Palavra é um ato de fé e de amor. Estevão, João Batista, Paulo, Tiago, Pedro, enfim, todos os apóstolos foram mártires da Palavra. Assim também aconteceu com os missionários, os santos, religiosos, religiosas, leigos e leigas. Ser mártir, morrer pela Palavra significa internalizar e testemunhar e sofrer pela Palavra. Na boca ela é doce, mas se torna amarga no coração, isto é, a Palavra é exigente, purificadora.
Oitavo passo: “consagrados à pregação da Palavra”. Jesus rezou: “Que eles sejam consagrados pela verdade” (Jo 17, 19). A Palavra é a verdade. Paulo Apóstolo recomenda a Timóteo: “cumpre a missão de pregador do Evangelho, consagra-te ao teu ministério” (II Tm 4,5). Consagrados pela Palavra, consagramos-nos em anunciá-la.
Por fim, precisamos permanecer na Palavra, pois ela é inesgotável, não envelhece, não passa. Permanecer na Palavra significa muitas coisas, como por exemplo, realizar lectio divina diariamente, os conhecimentos bíblicos, não trocar a Palavra pelo devocionalismo, memorizar um texto bíblico no cotidiano, etc. A Igreja sempre venerou as Divinas Escrituras da mesma forma como o corpo do Senhor. Que a Palavra não caia no chão, possa tinir em nossos ouvidos, descer ao coração e subir para nossos lábios.
                                                       
D. Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina
 


                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           

                                    


Sinfonia da Palavra de Deus

Encontramos a Palavra na criação, no povo de Israel, nos profetas, nos acontecimentos da história, na Igreja, nas comunidades, nas Escrituras, nos pregadores, mas, especialmente no Verbo que se fez carne. A Palavra está no princípio, é motor que tudo move, é o DNA e sinfonia de todas as coisas humanas e divinas. Ela é um céu infinito e um abismo insondável. É o livro de Deus e da humanidade, livro que foi escrito em mutirão. “O mal do mundo deriva de não se conhecer a verdade das Sagradas Escrituras” (Santa Tereza de Jesus).  A Bíblia é a cartilha, a gramática, a enciclopédia que nos ajuda a ler a história humana e a história da salvação.
Quando o cristianismo chegou ao Brasil, tinha acontecido o cisma do Ocidente (Lutero). Os católicos foram sendo identificados com a missa e os protestantes com a Bíblia. Por séculos a fora nós católicos vivemos num longo exílio longe da Palavra. Ela foi até proibida de se ler. O tesouro das Escrituras foi esquecido, escondido, desconhecido. O movimento bíblico pré-conciliar e o Concilio Vaticano II nos devolveram a Palavra. Fizemos grandes progressos, mas, há ainda um longo caminho a percorrer. Persiste ainda muito desconhecimento e indiferença bíblica. Não basta os mês bíblico, precisamos de um “século bíblico” até que todo dia seja dia da Palavra. Já foi sugerida na CNBB uma “mobilização bíblica” em toda a Igreja do Brasil, mas, a proposta não foi acatada. Nem temos uma Comissão Bíblica. É de lastimar.
Jesus, a Palavra viva também abriu o livro, leu as Escrituras e nelas encontrou a explicação de sua missão (Lc 4,18-20). Jesus cita frequentemente as Escrituras e nelas se fundamentava quando dizia: “é preciso que se cumpram as Escrituras”. Ele abriu a mente dos discípulos de Emaús e aqueceu seus corações explicando-lhes as Escrituras, começando por Moisés (cf. Lc 24,32-45). Dizia ainda, a Escritura não pode ser anulada. Errais não conhecendo as Escrituras. “Como é que lês”? perguntou ao  doutor da Lei (Lc 10,26). Insistia no valor das Escrituras ao afirmar: “As Escrituras dão testemunho de mim” (Jo 5,39). Admoestava seus ouvintes com esta pergunta: “Ainda não lestes as Escrituras?” (Mc 12,10). Todas estas admoestações de Jesus valem ainda hoje para nós.
Tornemo-nos amigos, discípulos e praticantes da Palavra. Ela é perfume de Cristo, bálsamo, alimento, tem sabor de mel, é mais preciosa que o ouro e prata, mais luminosa que a luz, sete vezes mais brilhante que o sol. Ouvir a Palavra é ouvir declarações de amor. A erva seca, a flor murcha, o mundo passa, mas, a Palavra permanece. Vale a pena ser o Evangelho em obras e boas ações, pronunciar a Palavra com a vida. Somos eco da Palavra e não de palavras. Quem é pessoa da Palavra torna-se pessoa de palavra.
Além de professores, oradores, exegetas bíblicos, precisamos antes de tudo ser orantes, profetas, confessores da Palavra. Não basta o especialista, é preciso o discípulo. Perguntava um rabino: “Eu atravessei a Bíblia, mas, será que a Bíblia me atravessou”? Os ouvintes de Pedro sentiam seus corações transpassados pela Palavra (cf. Ato 2,37). Os quatro grandes exegetas (especialistas) da Bíblia são: Jesus, os santos, os biblistas e você leitor e discípulo da Palavra.
O Sínodo da Palavra (2008) aconselhava: cada pessoa na família tenha sua Bíblia, os seminaristas adquiram paixão pela Bíblia, a catequese seja iluminada pela Palavra, os leitores nas celebrações saibam ler bem, o povo tenha acesso às Escrituras. Enfim, não esqueçam os que a Palavra tem uma voz, é a revelação divina. Tem um rosto, é Jesus de Nazaré. Tem uma casa, é a Igreja. Tem um caminho: a missão, os pés dos missionários e evangelizadores.
Sem a Palavra não se conhece o nome, a vida, a doutrina, o reino, as promessas e o mistério de Jesus de Nazaré. Uma Igreja “mestra da escuta” se torna convicta e convincente, persuasiva e atraente, vibrante e profética. Isso mesmo, quanto mais o catolicismo se tornar bíblico tanto mais será eficiente e corajoso no ecumenismo, no profetismo, na missionariedade e na espiritualidade. Viva a Palavra de Deus.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           
                                      D. Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina